Gosto dos filmes realizados por Clint Eastwood. Transmitem sempre uma mensagem que ultrapassa a narrativa, fazem-nos pensar acerca das coisas realmente importantes e mesmo quando não são espectaculares, dificilmente desiludem.
Vi Hereafter há pouco tempo. Desde que soube de que se tratava que estranhei a escolha do tema, porque Clint não nos habituou a este tipo de reflexões espirituais e equívocas - acho que os seus dilemas costumam ser até bastante terrenos e humanos. Aqui falamos de algo acerca do qual não temos certezas, de um acontecimento que nos toca a todos - a morte - e da divisão entre aqueles que acreditam no além e aqueles que se riem dessa possibilidade.
É um tema difícil, controverso, que com alguma facilidade pode cair no campo do ridículo e do descrédito - uma das personagens sofre com isso durante o filme - e nós próprios, tão certos que estávamos da nossa posição, seja ela qual for, acabamos, inevitavelmente, por a questionar.
Depois de ler algumas críticas nem por isso simpáticas, tenho vontade de expressar a minha opinião: não me interessa se Clint Eastwood é um ateu convicto ou não (eu própria não acredito em Deus), porque não me parece que a crença numa vida após a morte esteja necessariamente relacionada com a religião. Existe uma grande tentação de colocar tudo no mesmo saco, mas eu acho que na verdade não é preciso ser-se crente para acreditar em alguma coisa, não é preciso ser-se céptico para duvidar. Eu, como céptica convicta, tantas vezes involuntariamente, acho possível que exista algo mais do que isto - porque pura e simplesmente não tenho respostas acerca do que não conheço. Posso rir-me dos espectáculos de alguns médiums que passam na televisão e pensar - como é que é possível que alguém caia naquela armadilha? - mas é verdade que há pessoas extremamente sensíveis a certos acontecimentos. Posso duvidar do significado da palavra destino, mas não tenho explicação para muitas coincidências tão significativas que acontecem. Não acreditar não passa necessariamente por negar. E eu não nego o que desconheço. Se me tentam mostrar provas e eu não as vejo, confio na minha percepção da realidade, mas se falamos de algo que desconheço, acho que questionar e estudar todas as possibilidade talvez seja o melhor caminho.
Mais do que focar a temática paranormal, acho que Clint Eastwood nos chama antes a atenção para coisas muito importantes que nos acontecem enquanto humanos que não controlam o seu destino tanto quanto gostariam de acreditar que sim: o tsunami que põe em causa aquilo em que acreditamos; os acidentes inesperados que provam a fragilidade da vida; a incompreensão acerca do outro, quando as maldições dos outros nos parecem dons; as reviravoltas surpreendentes que um trajecto de vida pré-traçado acaba por dar sem querer; os encontros e desencontros que acontecem - quer acreditemos ou não em destino, em Deus ou na vida após a morte.
Acho que é isto que Clint nos quer dizer. Quer abrir-nos a mente e por-nos a pensar na inevitabilidade da vida - e da morte.
Se o filme é bom como muitos gostavam que fosse ou mau como outros tantos dizem, não me interessa. Eu gostei. E vocês?
I like the films directed by Clint Eastwood. They always carry a message that goes beyond the narrative, that make us think about the really important things, and even when they are not spectacular, they hardly disappoint.
I recently saw Hereafter. Since I knew about the story that I felt the choice was strange, because Clint didn't accustomed us to this kind of spiritual and misleading reflection - I think that his dilemmas are usually very terrene and human. Here we talk about something about which we have no certainty, of an event which concerns us all - death - and the division between those who believe in the afterlife and those who laugh at this possibility. It's a difficult and controversial issue, that with some ease can run into the field of ridicule and discredit - one of the characters suffers from it during the movie - but even ourselves, who were so sure of our position, whatever it is, we, inevitably, begin questioning.
After reading some not so nice reviews, I want to express my opinion: I don't care if Clint Eastwood is an atheist or not (I personally don't believe in God), because I don't think that the belief in life after death is necessarily related to religion. There is a great temptation to put everything in the same bag, but I think it's really not necessary to be a believer to believe in something, it's not necessary to be skeptical to doubt. I, as a convinced skeptic, often unwittingly, I think there might be something more than this - simply because I don't have no answers about what I don't know. I can laugh at some of the performances of mediums who go on television and think - how is it possible for someone to fall into that trap? - but it's true that there are people extremely sensitive to certain events. I doubt the meaning of the word destiny, but I have no explanation for the many significant coincidences that sometimes happen. Not to believe isn't necessarily to deny. And I won't deny what I don't know. If someone tries to show evidence of something and I don't see them, I rely on my perception of reality, but if we speak of something unknown, I think questioning and studying all possibilities is perhaps the best way.
Rather than focus on the paranormal theme, I think Clint Eastwood calls our attention to the important things that happen to us as humans who don't control our destiny as much as we would like to believe: the tsunami that ends up questionning what we believe; the unexpected accidents that prove the fragility of life; the misunderstanding about the other, when the curses of the others seem like gifts to us; the surprising twists that a life with a predestined journey ends up having inadvertently; the encounters and disencounters that occur - whether we believe or not in destiny, in God or the afterlife.
I think this is what Clint wants to tell us. He wants us to open our minds and think about the inevitability of life - and death. If the movie is good as many liked it to be or bad as many others say, doesn't interest me. I liked it. How about you?
Vi Hereafter há pouco tempo. Desde que soube de que se tratava que estranhei a escolha do tema, porque Clint não nos habituou a este tipo de reflexões espirituais e equívocas - acho que os seus dilemas costumam ser até bastante terrenos e humanos. Aqui falamos de algo acerca do qual não temos certezas, de um acontecimento que nos toca a todos - a morte - e da divisão entre aqueles que acreditam no além e aqueles que se riem dessa possibilidade.
É um tema difícil, controverso, que com alguma facilidade pode cair no campo do ridículo e do descrédito - uma das personagens sofre com isso durante o filme - e nós próprios, tão certos que estávamos da nossa posição, seja ela qual for, acabamos, inevitavelmente, por a questionar.
Depois de ler algumas críticas nem por isso simpáticas, tenho vontade de expressar a minha opinião: não me interessa se Clint Eastwood é um ateu convicto ou não (eu própria não acredito em Deus), porque não me parece que a crença numa vida após a morte esteja necessariamente relacionada com a religião. Existe uma grande tentação de colocar tudo no mesmo saco, mas eu acho que na verdade não é preciso ser-se crente para acreditar em alguma coisa, não é preciso ser-se céptico para duvidar. Eu, como céptica convicta, tantas vezes involuntariamente, acho possível que exista algo mais do que isto - porque pura e simplesmente não tenho respostas acerca do que não conheço. Posso rir-me dos espectáculos de alguns médiums que passam na televisão e pensar - como é que é possível que alguém caia naquela armadilha? - mas é verdade que há pessoas extremamente sensíveis a certos acontecimentos. Posso duvidar do significado da palavra destino, mas não tenho explicação para muitas coincidências tão significativas que acontecem. Não acreditar não passa necessariamente por negar. E eu não nego o que desconheço. Se me tentam mostrar provas e eu não as vejo, confio na minha percepção da realidade, mas se falamos de algo que desconheço, acho que questionar e estudar todas as possibilidade talvez seja o melhor caminho.
Mais do que focar a temática paranormal, acho que Clint Eastwood nos chama antes a atenção para coisas muito importantes que nos acontecem enquanto humanos que não controlam o seu destino tanto quanto gostariam de acreditar que sim: o tsunami que põe em causa aquilo em que acreditamos; os acidentes inesperados que provam a fragilidade da vida; a incompreensão acerca do outro, quando as maldições dos outros nos parecem dons; as reviravoltas surpreendentes que um trajecto de vida pré-traçado acaba por dar sem querer; os encontros e desencontros que acontecem - quer acreditemos ou não em destino, em Deus ou na vida após a morte.
Acho que é isto que Clint nos quer dizer. Quer abrir-nos a mente e por-nos a pensar na inevitabilidade da vida - e da morte.
Se o filme é bom como muitos gostavam que fosse ou mau como outros tantos dizem, não me interessa. Eu gostei. E vocês?
I like the films directed by Clint Eastwood. They always carry a message that goes beyond the narrative, that make us think about the really important things, and even when they are not spectacular, they hardly disappoint.
I recently saw Hereafter. Since I knew about the story that I felt the choice was strange, because Clint didn't accustomed us to this kind of spiritual and misleading reflection - I think that his dilemmas are usually very terrene and human. Here we talk about something about which we have no certainty, of an event which concerns us all - death - and the division between those who believe in the afterlife and those who laugh at this possibility. It's a difficult and controversial issue, that with some ease can run into the field of ridicule and discredit - one of the characters suffers from it during the movie - but even ourselves, who were so sure of our position, whatever it is, we, inevitably, begin questioning.
After reading some not so nice reviews, I want to express my opinion: I don't care if Clint Eastwood is an atheist or not (I personally don't believe in God), because I don't think that the belief in life after death is necessarily related to religion. There is a great temptation to put everything in the same bag, but I think it's really not necessary to be a believer to believe in something, it's not necessary to be skeptical to doubt. I, as a convinced skeptic, often unwittingly, I think there might be something more than this - simply because I don't have no answers about what I don't know. I can laugh at some of the performances of mediums who go on television and think - how is it possible for someone to fall into that trap? - but it's true that there are people extremely sensitive to certain events. I doubt the meaning of the word destiny, but I have no explanation for the many significant coincidences that sometimes happen. Not to believe isn't necessarily to deny. And I won't deny what I don't know. If someone tries to show evidence of something and I don't see them, I rely on my perception of reality, but if we speak of something unknown, I think questioning and studying all possibilities is perhaps the best way.
Rather than focus on the paranormal theme, I think Clint Eastwood calls our attention to the important things that happen to us as humans who don't control our destiny as much as we would like to believe: the tsunami that ends up questionning what we believe; the unexpected accidents that prove the fragility of life; the misunderstanding about the other, when the curses of the others seem like gifts to us; the surprising twists that a life with a predestined journey ends up having inadvertently; the encounters and disencounters that occur - whether we believe or not in destiny, in God or the afterlife.
I think this is what Clint wants to tell us. He wants us to open our minds and think about the inevitability of life - and death. If the movie is good as many liked it to be or bad as many others say, doesn't interest me. I liked it. How about you?
vou ver este fim de semana,logo direi.
ReplyDeletemas gostei do teu texto e fiquei ainda mais curiosa.
bom fim de semana
Eu também gostei! Independentemente das crenças de cada um, uma coisa não podemos negar, a humanidade das personagens que Clint Eastwood compõe! Todos sofremos com a morte e a ausência daqueles que se foram, e muitas vezes damos por nós a querer acreditar em algo mais, mesmo os mais cépticos, para preencher um pouco o vazio! Foi isso que gostei mais no filme, e da personagem do Marcus, é muito tocante :)
ReplyDeleteBjinhos e bom fim-de-semana!
Vi este filme logo assim que foi para as salas de cinema. Adorei! E revejo-me bastante nas tuas palavras
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