A Criança no Tempo // Ian McEwan

Monday 26 March 2018



Mais tarde, nos meses e anos dolorosos, Stephen esforçar-se-ia por reentrar nesse momento, abrir caminho para trás através das pregas entre acontecimentos, enfiar-se entre os lençóis e inverter a sua decisão. Mas o tempo - não necessariamente como é, porque sabe lá alguém como ele é, mas como o pensamento o constituiu - proíbe monomaniacamente segundas oportunidades. Não existe nenhum tempo absoluto, dissera-lhe em certas ocasiões a sua amiga Thelma, nenhuma entidade independente. Só o nosso entendimento particular e fraco.

Ian McEwan, A Criança no Tempo, p 15

PT
Nunca tinha pensado em ler Ian McEwan, mas quando recentemente me apercebi que é o autor de Expiação - um filme que gostei bastante de ver - fiquei com curiosidade de pegar neste A Criança no Tempo que estava lá em casa, entre os livros da colecção Mil Folhas.

Contado do ponto de vista de um pai que passa por um dos maiores imagináveis pesadelos - perder a filha de três anos no supermercado - é um livro de escrita segura, capaz de momentos comoventes e de um revigorante sentido de humor. O livro não tem uma narrativa linear, o que a torna ainda mais interessante, mas recua e avança no tempo para nos dar um retrato da vida da personagem e de alguns momentos importantes que inevitavelmente a memória recupera no presente - essa memória que tanto contribui para o que somos hoje.
A vida interior da personagem é expressa através de uma grande tensão emocional, que varia entre a inércia da incredulidade e o desespero da loucura e em que a cena do desaparecimento é vivida de forma extremamente rica e realista.

Para pensar sobre a infância, sobre o crescimento até à maturidade, sobre a forma como o tempo se faz sentir, pleno de surpresas e revelações, de dificuldades e desafios, de evoluções e recomeços.

EN
I had never thought about reading Ian McEwan, but when I recently realized that he is the author of Atonement - a film I liked a lot to watch - I was curious enough to pick up this The Child in Time that I already had at home.

Told from the point of view of a father who goes through one of the biggest imaginable nightmares - losing his three year old daughter in the supermarket - is a book with a secure writing, capable of touching moments and an invigorating sense of humor. The book doesn't have a linear narrative, which makes it even more interesting, but it goes back and forth in time to give us a picture of the character's life and some important moments that memory inevitably recovers in the present - that memory that contributes so much to what we are today.
The inner life of the character is expressed through great emotional tension, which varies between the inertia of unbelief and the despair of madness and where the scene of the disappearance is experienced in an extremely rich and realistic way.

To think about childhood, about growth until maturity, about how time is felt, full of surprises and revelations, of difficulties and challenges, of evolutions and beginnings.

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