Alguém com um sentido tenso dos deveres e que conhecia todo o comprimento de uma decisão - percebia bem que qualquer vontade, depois de desencadeada, deve ser aplicada em cada ponto até ao seu final, sem uma única indecisão ou abrandamento. Sabia que não se pode mudar no último momento a direcção do bisturi ou de uma bala, pois é assim que sucedem os erros, as grandes falhas - esse pecado não é apenas técnico, mas também moral, de se atingir por inabilidade, por exemplo, um aliado.
(...) A velocidade mais importante, dizia Frederich Buchmann, não é a da máquina onde estamos sentados mas a das decisões que tomamos. Velocidade que depende exclusivamente do organismo; do sangue que recebes quando nasces e das ideias que recebes quando cresces. É a verdadeira velocidade, dizia Frederich, aquela com que decides. Ao lado disto, a velocidade de um avião é semelhante à de uma carroça.
Gonçalo M. Tavares, Aprender a Rezar na Era da Técnica, p 105
PT
Não vou cansar-vos de novo a repetir que toda a gente devia ler Gonçalo M. Tavares, um dos escritores portugueses mais geniais de sempre e, a depender de mim, o nosso futuro segundo Nobel da Literatura.
Terminei recentemente o terceiro dos quatro livros d'O Reino, uma espécie de colectânea do que de mais humano e negro a humanidade tem. Loucura, guerra, doença... seguimos incrédulos a frieza com que são narradas as situações mais condenáveis, mais aberrantes, mais repugnantes - como se fossem normais. E não são?
EN
I won't tire you by repeating again that everyone should read Gonçalo M. Tavares, one of the most genial Portuguese writers ever and, depending on me, our future second Nobel of Literature.
I have recently finished the third of the four books of The Kingdom, a kind of collection of humanity's most humane and black aspects. Madness, war, disease... we follow in disbelief the coldness with which the most damnable, aberrant, and repugnant situations are narrated - as if they were normal. And aren't they?
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